
O investimento na medicina preventiva é indubitavelmente o melhor que podemos fazer, tanto individualmente como para o bom funcionamento dos serviços de saúde do país. Ele implica, no entanto, uma mudança importante de paradigma, a passagem de uma medicina essencialmente voltada para a doença para uma medicina voltada para a saúde. Sendo que a medicina voltada para a saúde, em termos de negócio, é muito menos apelativa do que a medicina da doença, não é no entanto certo que o bom senso prevaleça e a medicina preventiva se torne o essencial da medicina do futuro.

Contudo, a medicina preventiva não pode resumir-se a alguns apelos mais ou menos consistentes a comer legumes e fazer exercício físico.
Do ponto de vista da alimentação, uma pedra basilar da manutenção da saúde, seria necessário promover realmente bons hábitos, a começar pelas escolas. A alimentação escolar continua a ser um vertedouro da indústria alimentar onde os cozinheiros foram substituídos por aquecedores de comida pré-preparada, já sem referir que a qualidade das opções vegetarianas é tão má que os miúdos vegetarianos as recusam. De pouco serve trazer nutricionistas para as escolas sem mudar o sistema, sem garantir o fornecimento de alimentos variados e de qualidade e… voltar a cozinhar! Atualmente as cantinas escolares são apenas o átrio dos fast e junk foods, que aliás proliferam nas imediações das escolas.

Para haver bons alimentos é necessário produzi-los, o que nos leva a um segundo ponto essencial: a promoção de uma agricultura local e diversificada, tanto quanto possível biológica ou pelo menos respeitadora do ambiente, e de redes de distribuição organizadas. Ora o que vemos é que, para além de pequenas ações desconcertadas e sem impacto real, o modelo económico prevalecente continua a ser a captação de grandes investimentos para a proliferação de monoculturas intensivas e a expansão do mar de plástico onde a mão-de-obra estrangeira é explorada, produzindo alimentos de um modo insustentável e sorvedor de água e recursos do solo, na verdade produzindo apenas mais-valia económica. A que custo?

Sem querer discutir a capacidade de tratamento das medicinas não convencionadas, outro aspeto totalmente desleixado no que poderia constituir uma verdadeira ação preventiva é a suplementação nutricional e a medicina complementar. Muitos dos gastos do SNS poderiam ser reduzidos com a aposta na resposta precoce a pequenas maleitas antes de elas se tornarem grandes doenças, já sem mencionar o que isso representa em termos de sofrimento humano dos doentes e de sobrecarga dos profissionais de saúde. Um estudo inglês conclui, por exemplo, que uma suplementação básica multivitamínica e multimineral reduz significativamente os problemas de saúde de populações idosas. Nesse estudo, o custo, subsidiado, da suplementação compensava largamente a poupança no recurso aos serviços de saúde pública. Outro refere as grandes vantagens da suplementação em ómegas-3 em alunos com dificuldades múltiplas de aprendizagem. Outros ainda nas vantagens da suplementação em vitaminas em que as populações são endemicamente carentes, como a vitamina D ou a B12. Dir-se-ia que há uma opção por deixar andar até ao dano de saúde irreversível, até à lesão orgânica, altura em que a prevenção cessa e toda a capacidade técnica da medicina moderna, com todo o arsenal de drogas medicamentosas e lucrativas, aparece, e bem, em todo o seu esplendor.

Muitas das doenças que nos afligem poderiam, em fases iniciais, ser evitadas com recurso a tratamentos naturopáticos e a remédios simples e naturais, praticamente sem impacto ambiental e sem efeitos secundários. Porque recusá-los? Ou deixá-los apenas à disposição de pessoas mais esclarecidas e com mais meios? Felizmente cada vez mais médicos, sobretudo na medicina familiar, estão conscientes desta realidade e atentos aos seus doentes e às suas necessidades. Haja esperança! Em poucas décadas passamos de pessoas a consumidores, esperemos que não passemos em breve de consumidores a números que engordam a indústria médica. Mas os desmedidos investimentos das grandes multinacionais deste mundo na área da saúde não auguram nada de bom…
Imagens cedidas pelo laboratório VitaSil – Silício Orgânico Bioativado